sexta-feira, 29 de março de 2013

Sexta-Feira da Paixão e o Candomblé




O ritual da "cura" na sexta-feira da Paixão dentro da casa de Candomblé.




O Ritual da Cura ou Fechamento de Corpo praticado em muitos candomblés na Sexta Feira da Paixão, que é uma data que os católicos dedicam à memória da crucificação de Jesus Cristo, tem origem nas mais antigas práticas bantos de calundus (formações religiosas anteriores à formação do candomblé modelado pelo Ketu na Bahia).

Algumas tradições Jeje Mahi, formações de candomblés Nagô Vodum, e Jeje Nagô principalmente, absorveram, em sua formação, do elemento banto presente no Recôncavo Baiano, tal tradição, umas casas como as de Candomblé de Angola realizam na Sexta Feira da Paixão e outras tradições segmentadas e formações não propriamente no dia santificado dos católicos, mas em etapa anterior ao sacrifício do bicho de 4 patas do rito de iniciação.

A “cura” é uma denominação para a “cruza ou cruz”, sinal recebido dos mercadores e traficantes de escravos para marcá-lo e distingui-lo dentro de um grande número de indivíduos, principalmente assim agiam os mercadores e traficantes espanhóis, portugueses e brasileiros (muitos referidos ao longo da História como sendo portugueses). Tal símbolo era marcado nos braços, peito, costas dos escravos de forma a marcá-lo com sendo já batizados e, portanto que já haviam recebido o nome pelo qual deviam ser conhecidos doravante, só então depois eram conduzidos ao Brasil em navios negreiros. Tal flagelo atendia a grandes encomendas de escravos principalmente para o árduo trabalho da lavoura no Ciclo da Cana de Açúcar.

Em fongbè (Língua Fon) a cruz é denominada kluzú (pronunciando-se curuzú, que dá nome a uma localidade em Salvador, Bahia). Para o indivíduo banto de forma geral e principalmente no Brasil ficou entendida como “cura”. Também no Brasil muitos índios entenderam o símbolo da cruz como curuçá ou cruçá a partir dos Jesuítas, passando assim a denominá-la.

O segredo do Fechamento de Corpo no Ritual da Cura está no que lhe é passado depois da marcação do sinal e o que é rezado naquele momento, diferindo os ingredientes passados e ingeridos e as rezas de acordo com o candomblé.


segunda-feira, 4 de março de 2013

Por que o Orixá Dança?



São os atabaques, que juntamente com as cantigas entoadas que trazem os Orixás do Orum para o Ayê. São conhecidos como Run (atabaque maior), Rumpi e Le (atabaque menor) e devem ser tocados apenas por Ogãns, sendo então um instrumento sagrado essencial dentro de qualquer casa de santo.

Sob o ritmo do Alujá, o grande rei Xangô mostra seu poder sobre os trovões, no Ijexá, Oxum, soberana, admira-se em seu espelho, Iemanjá, sempre majestosa, se banha em suas águas. Ogum, ao som do Adarrum, é o grande guerreiro que desbrava os caminhos, no ritmo do Aguere, Oxóssi, grande rei da fartura, caça o alimento de seus filhos, Iansã, destemida e leve como os ventos, recolhe e espalha as más energias. Oxalá, ao som do Igbi, traz toda a paz e tranquilidade de um grande Pai, enfim, os Orixás chegam do Orun (céu) para confraternizar com seus filhos do Ayê (terra), em uma harmoniosa troca de energia e axé.

Temos ainda dois momentos em uma cerimônia de Candomblé, o Xirê, onde se canta para todos os Orixás um mínimo de três cantigas, acompanhadas pelas danças, onde em uma grande roda, todos os filhos louvam cada Orixá, imitando seus gestos em uma grande roda que é dançada em sentido anti-horário simbolizando assim a nossa volta ao passado, a volta a nossa ancestralidade. Em um segundo momento, com a chegada dos Orixás, estes são devidamente trajados e recebem suas ferramentas para suas Cantigas de Run, onde é o Orixá que desenvolve a coreografia sagrada.


Mas afinal, por que o Orixá dança?



Quando falamos em Candomblé, falamos de uma religião brasileira que foi e ainda é passada de maneira oral, por isso, através da dança, o Orixá conta ao público a sua história mitológica, seus feitos, suas batalhas, redistribuindo a energia vital, axé e trazendo o sagrado de volta ao mundo cotidiano. Nossos deuses dançam entre nós, não se importam se somos ricos ou pobres, brancos ou negros ou ainda se gostamos de rosa ou azul, estão sempre lá, a nossa espera, emanando sua força e transmitindo axé a todos que a eles recorrem. No Candomblé, assim como na Umbanda, todos são irmãos, uma grande família, somos felizes, expressamos nossa alegria cantando e dançando para nossos Orixás que sempre estarão dispostos a nos acolher, por isso dançamos sempre com um lindo sorriso no rosto, pois a fé quando transborda vira gotas de alegria!