segunda-feira, 28 de outubro de 2013

6º. Itan:


Em outra estória, em outro itan, Exú com certeza come tudo e ganha o privilégio de comer primeiro. Exú era o filho caçula de Iemanjá e Orumilá, irmão de Ogum, Xangô e Oxóssi. Exú comia de tudo. Sua fome era incontrolável. Comeu todos os animais da aldeia em que vivia. Comeu de 4 pés, comeu de penas, comeu de cereais, as frutas, os inhames, as pimentas. Bebeu toda a cerveja, toda aguardente, todo o vinho. Ingeriu todo o azeite de dendê, mastigou todos os obis. Quanto mais comia, mais fome sentia. Primeiro comeu tudo do que mais gostava, depois começou a devorar árvores, pastos e já ameaçava engolir o próprio mar. Furioso Orumilá compreendeu que Exú não pararia e acabaria por comer até o céu. Orumilá pediu a Ogum que detivesse o irmão a todo custo, e para preservar a terra, os seres humanos e os próprios Orixás, Ogum teve que matar o próprio irmão. A morte, entretanto não aplacou a fome de Exú, que mesmo depois de morto podia se sentir sua presença devoradora, sua fome sem tamanho nos pastos, nos mares, nos poucos animis que restaram, todas as colheitas, até os peixes iam sendo consumidos. Os homens não tinham mais o que comer e todos os habitantes da aldeia adoeceram, e de fome, um a um foram morrendo. O sacerdote da aldeia consultou o Oráculo de Ifá e alertou Orumilá quanto ao maior dos riscos. Exú, mesmo em espírito estava pedindo a sua atenção. Era preciso aplacar a fome de Exú. Exú queria comer. Orumilá então obedeceu ao Oráculo e ordenou:
“– Doravante para que Exú não provoque mais catástrofes, sempre que fizeres oferendas aos Orixás, deverão em primeiro lugar, servir comida a ele, para haver paz e tranquilidade entre os homens é preciso dar de comer a Exú em primeiro lugar.”


Ensinamento: Esse itan marca o ebó de tudo o que a boca come que é aplicado nos iniciados, é aplicado em orôs, em clientes, dependendo das circunstâncias, dependendo do estado de vida que ele se encontre, dependendo da pobreza que bate a sua porta. Esse ebó de tudo o que a boca come, é um ebó que rende homenagem a Exú, é aquele ebó tradicional que se coloca de tudo um pouco, desde açúcar, até o pó de café. Os itans, eles falam por nós, eles falam por cada estória, eles justificam cada gesto, justificam cada momento da nossa vida. Com os itans foi cultuado a história do Candomblé, com os itans foi criado momentos especiais que fazem parte do progresso individual de  cada ser humano.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

5º. Itan:


Em outra época, Exú ajudava Olodumare na criação do mundo, bem no princípio, durante a criação do universo. Olodumare reuniu os sábios do Orum para que o ajudassem no surgimento da vida e no nascimento dos povos sobre a face da terra, entretanto, cada um tinha uma ideia diferente para a criação e todos encontravam algum inconveniente nas ideias dos outros, nunca entrando num acordo, assim surgiram muitos obstáculos e problemas para executar a boa obra a que Olodumare se propunha.  


Então, quando sábios e o próprio Olodumare se propunha e já acreditava que era impossível realizar tal tarefa. Exú veio em auxílio de Olodumare e disse que para obter sucesso em tão grandiosa obra era necessário sacrificar 101 pombos como ebó. Com o sangue dos pombos se purificariam das diversas anormalidades que perturbavam a vontade dos bons espíritos, daqueles que queriam uma construção, que queriam uma vida melhor. Ao ouvi-lo, Olodumare estremeceu, porque a vida dos pombos está muito ligada a sua própria vida. Mesmo assim, pouco depois sentenciou; assim seja pelo bem de meus filhos, e pela primeira vez então, sacrificaram-se pombos. 


Exú foi guiando Olodumare por todos os lugares aonde se deveria verter o sangue dos pombos para que tudo fosse purificado e para que seu desejo de criar o mundo assim fosse cumprido. Quando Olodumare realizou tudo o que pretendia convocou Exú e lhe disse:


“– Muito me ajudastes e eu bendigo teus atos. Por toda a eternidade sempre será reconhecido. Exú será louvado sempre e antes do começo de qualquer empreitada, você será homenageado”.


Ensinamento: Nesse itan extrai-se literalmente o uso do ilé nos Boris, o uso do ilé nas obrigações. O ilé que acompanha a cabra, que acompanha o cabrito antes da galinha d’angola. Para louvar, para render homenagens, para limpar, para consagrar, para espalhar sobre o ori. O manto sagrado da criação do mundo, o manto sagrado da criação de uma nova vida, de um novo caminho sobre a cabeça a qual se está trabalhando. 


segunda-feira, 7 de outubro de 2013

4º. Itan:


E Exú também refez o tabu e refeito o decano dos Orixás. Exú era o mais novo dos Orixás. Exú assim deveria reverências a todos eles sendo sempre o último a ser cumprimentado. Mas, Exú almejava o cargo, almejava grau, almejava a superioridade, desejando ser homenageado pelos mais velhos. Para conseguir seu intento Exú foi consultar o Babalaô. Foi dito a Exú que fizesse sacrifício. Deveria oferecer 3 ecodidés, que são as penas do papagaio vermelho, 3 galos de crista gorda, mais 15 búzios, azeite de dendê, mariwo. Exú fez o ebó e o adivinho disse a ele para tomar um dos ecodidés e usá-lo na cabeça amarrado na testa e que assim não poderia por três meses carregar na cabeça o que quer que fosse. Olodumare a eles atribuíra responsabilidades. Oxú, a grande mãe lua foi buscar os orixás, Todos os Orixás se preparavam para o grande momento, a grande audiência com Olodumare. Todos trataram de preparar suas oferendas, fizeram suas trouxas, seus carregos, para levar tudo para Olodumare. Cada um foi com a trouxa de oferendas na cabeça, só Exú não levava nada porque estava usando ecodidés. Sua cabeça estava descoberta, não tinha gorro, nem coroa nem chapéu, nem carga. Oxú levou os orixás até Olodumare. Quando chegaram ao Orun de Olodumare, todos se prostraram, mas Olodumare não teve que perguntar nada a ninguém, pois tudo o que ele queria saber lia nas mentes dos Orixás, e disse ele então:

“– Aquele que usa o ecodidés foi quem trouxe todos para mim. Todos trouxeram oferendas e ele não trouxe nada, ele respeitou o tabu e não trouxe nada na cabeça, ele está certo, ele acatou o sinal de submissão, doravante será meu mensageiro, pois respeitou o “ó”, tudo o que quiseres de mim, que me seja mandado dizer por intermédio de Exú, e então por isso, por sua missão, que ele seja homenageado antes dos mais velhos, porque ele é aquele que usou o ecodidé e não levou o carrego da cabeça em sinal de respeito e também de submissão.” Assim, o mais jovem dos Orixás, o que era saudado por último, passou a ser o primeiro a receber o cumprimento, a saudação. Os mais novos foi feito os mais velhos. Exú é o mais velho e o decan dos Orixás.


Ensinamento: Esse itan marca a abertura de um axé, de um Xirê, de qualquer orô que vá se fazer para um Orixá. Qualquer orô que vá começar numa casa de santo é preciso com certeza dar caminho a Exú, rodar o padê, levar Exú até a rua, conduzi-lo para que ele possa estar satisfeito e ser o primeiro a ser louvado. Ao abrir o Xirê numa casa de axé, não se faz nada sem consagrar, sem louvar, sem render homenagens ao primeiro e com certeza também, o mais velho, aquele que conseguiu superar os tabus. Com certeza Exú é reverenciado nos dias de hoje, ainda baseado neste itan, baseado na sua vantagem que teve por usar a inteligência.