Pode ocorrer durante uma festa de Candomblé, alguém possa ser escolhido para ser Ogam, um cargo masculino de pessoa que não se manifesta com nenhuma divindade, e que somente galga o posto, mediante a escolha direta de um Orixá. Se for Iansã, ele será um Ogam de Iansã, independente do Orixá que ele possua. O Orixá o pegará pelo braço e dará um breve passeio pelo salão, apresentando-o a todos, com um cântico que costuma ser modificado conforme a casa.
“Jí olóyé Ióloyè
A ta taròde”
Suspendemos o titular
Que terá a riqueza do título
Uma cadeirinha formada com os braços, por dois Ogãns mais velhos, o conduzirá a uma cadeira, sentando-o após três tentativas obrigatórias. A partir daí será considerado um Ogam Suspenso, merecedor de honrarias, até que seja iniciado e tenha o seu Orixá assentado. Se for Ogum, fará as obrigações para este Orixá, juntamente com um ritual para o Orixá que o apontou.
Todo Ogam deve passar pelo ritual do bólónàn, para verificar a sua condição de ter apenas o santo assentado, ou se houver alguma manifestação, ser recolhido como adósù, o equivalente a Iyawo. A intenção é confirmar a impossibilidade de uma manifestação com o objetivo de evitar que no futuro ele venha a se aventurar como pai de santo, sendo este o momento de comprovação. Neste caso, não há necessidade das mesmas obrigações de um Iyawo, e varia de acordo com os preceitos de cada casa, como por exemplo, cortar os cabelos e raspar a cabeça, entre outros atos.
Alguns Ogãns, devido ao conhecimento que adquirem, passam a agir como zeladores de santo, fazendo coisas para os quais não foram destinados.
Sob o ponto de vista iniciático, os Ogãns se tornam fiéis à Casa que os iniciou, pelo fato de não poderem mais ser novamente confirmados em outra Casa, no caso de alguma futura insatisfação. É uma situação contrária a dos Adósù, que tem a liberdade de mudar de Candomblé diante de alguma divergência, e fazer suas obrigações com outros dirigentes. Aos Ogãns, é apenas dado o direito de serem homenageados por outros Candomblés, com algum título de reconhecimento pela sua competência religiosa.
O recolhimento tem a duração de tempo menor do que a de um Iyawo, o que demonstra ritos menos complexos. Em sua apresentação pública, será conduzido pelo próprio Orixá que o escolheu, que dirá o seu novo nome, terá sua cadeira exclusiva sendo chamado de Pai e todos lhe tomarão a benção. Passará a usar um boné branco, Filà ou Àketè, símbolo de sua posição, embora muitos não tenham o hábito de usá-lo. Terá um Oyè, um título especificando sua real função e será sempre uma pessoa a quem todos poderão recorrer para sugestões e ajuda, de acordo com sua competência e dignidade moral.
Alguns títulos que definem as reais funções de um Ogam:
Candomblé Ketu: Alágbé, Aràmefà, Apogan, Bàbá Egbé, Ajimudà, Sárépégbè, Asògún, Apótún, Sobalojú, Asógbá, Afikode, Ojú Oba, Elémòsó, Oji Ode, Balógun, Balè.
Candomblé Jeje: Pejigan, Bajigan, Hunto, Gan, Gainpe, Oganvi
Candomblé Angola: Tata Utala, Tata Kambondo, Kinsaba, Kivonda ou Kixikaramgome Pokó, entre outros.
O grupo de tocadores é dirigido pelo Alágbè, que se ocupa de tocar o maior dos três atabaques, comandando o ritmo e impondo uma variedade enorme de toques e efeitos como um autêntico regente. Os outros o acompanham, um deles utilizando o Agogô, uma campânula de ferro para fazer a marcação, sem qualquer forma de diálogo que não seja através do ritmo. Ao Alágbè compete “dar rum ao santo”, ou seja, homenagear o Orixá com cantigas que ressaltam seus atributos.
A expressão vem do Iorubá, Dáhún, responder (pronuncia-se darrum). Nos Candomblés Jeje, os Voduns costumam cantar alguns cânticos junto aos atabaques. Quando isto acontece, o Ogam responde com outros cânticos. Este ato de responder justificou a expressão Dáhún ao santo.
Os cânticos possuem a parte cantada pelo Alágbé, que é o solista, e a parte cantada pelo coro composto pelas pessoas que dançam na Roda. Às vezes cantigas suaves como as de Oxum, outras mais vibrantes como as de Xangô ou Iansã. Todos os momentos do Candomblé têm relação com a musicalidade sagrada.
Nos Candomblés da Nação Angola, os atabaques são denominados de Ngoma, e são percutidos com as mãos. Somente no ritual fúnebre do Sihun, são usadas varetas, talvez por influência jeje. Os toques são denominados de Cabula, Congo e Barravento.