quarta-feira, 25 de julho de 2012

Fio de Contas no Candomblé



Na mitologia sobre a invenção do candomblé, os colares de contas aparecem como objetos de identificação dos fiéis aos deuses e o seu recebimento, como momento importante nessa vinculação. De acordo com o mito, a montagem, a lavagem e a entrega dos fios-de-contas constituem momentos fundamentais no ritual de iniciação dos filhos-de-santo, os quais, daí em diante, além de unidos, estão protegidos pelos orixás.


Feitos com contas de diferentes materiais e cores, esses fios apresentam uma grande diversidade e podem ser agrupados por tipologias de acordo com os usos e significados que têm no culto. Assim, acompanham e marcam a vida espiritual do fiel, desde os primeiros instantes da sua iniciação até às suas cerimônias fúnebres.


Como nos momentos da montagem e do recebimento, também o instante da ruptura é significativo; entretanto, o rompimento do fio-de-contas, mais do que indicar um mau presságio, que assusta e preocupa o indivíduo e a comunidade, pode ser o início de um novo ciclo, um recomeço, um momento de viragem que pede um novo fio. Dos primeiros fios – simples, ascéticos e rigorosos – às contas mais livres, exuberantes, complexas e personalizadas que a pessoa vai produzindo ou ganhando ao longo do tempo, delineia-se o caminho de cada um na sua vinculação aos orixás e à comunidade do terreiro.


Desta maneira, mais do que a libertação do gosto particular, as transformações nos colares revelam o conhecimento adquirido pela pessoa e sua ascensão na hierarquia religiosa. De tal modo que um leigo pode passar despercebido por um fio-de-contas ou vê-lo apenas como um adorno, enquanto um iniciado na cultura do candomblé o tomará como um objecto pleno de significados, que pode ser “lido” e no qual é possível identificar a raiz, o orixá da cabeça e o tempo de iniciação, entre outros dados da vida espiritual de quem o usa.


Dos ritos secretos e espaços fechados do culto aos orixás, os fios-de-contas ganharam o mundo e adquiriram novos usos. De África vieram para o Brasil e para todo o mundo onde o candomblé se tem difundido. Hoje, devido ao sincretismo religioso, além dos espaços de culto, é possível observar a presença de fios-de-contas em lugares inusitados como automóveis e lojas, mas já destituídos das funções e sentidos primordiais, usados apenas para proteger os espaços e as pessoas contra maus agouros.


Pode ser chamado fio-de-contas desde aquele de um fio único de miçangas até a um colar com vários fios presos por uma ou várias firmas. A quantidade de fios pode variar de uma nação para outra na correspondência de cargos.


Na hierarquia do candomblé toda a pessoa que entra para a religião será um Abiã e assim permanecerá até que se inicie. Ao Abiã só é permitido o uso de dois fios-de-contas simples de um fio só, um na cor branco leitoso que corresponde a Oxalá, de acordo com a nação e um na cor do Orixá da pessoa, quando já tenha sido identificado, dessa forma pode-se saber que a pessoa é um Abiã e qual é o seu Orixá.


Um Ebomi usa diversos colares de um fio só, com contas na cor dos Orixás que já tem assentados e estas já podem ser intercaladas com corais ou firmas Africanas.


Tipos de fios-de-contas:



Yian/Inhãs: Fios de uma só “perna”, isto é, o colar simples de uma só fiada de miçangas cuja medida deve ir até a altura do umbigo.


Dilogum: Colares feitos de 16 fiadas de miçangas com um único fecho cuja medida, como os Inhãs, vai até à altura do umbigo. Cada Iaô deve possuir, normalmente, um Dilogum do seu orixá principal e outro do orixá que o acompanha em segundo plano.


Brajá: longos fios montados de dois em dois, em pares opostos. Podem ser usados a tiracolo e cruzando o peito e as costas. É a simbologia da inter-relação do direito com esquerdo, masculino e feminino, passado e presente. Quem usa esse tipo de colar é um descendente dessa “união”.


Humgebê/Rungeve: Feito de miçangas marrons, corais e seguis (um tipo de conta).

Lagdibá/Dilogum: Feito de fios múltiplos, em conjuntos de 7, 14 ou 21. São unidos por uma firma (conta cilíndrica).


                           As Cores dos fios-de-contas de cada Orixá:


Exú – Contas Pretas intercaladas com Contas Vermelhas ou contas Cinzas.

Ogum – Contas Verde ou azul marinho

Oxóssi – Contas Azul-turquesa

Omulu – Contas Brancas Raiadas de Preto e Marrom

Oxumarê – Contas verdes Raiadas de Amarelo

Ossaim – Contas Verdes rajadas de branco

Iroko – Contas Verdes intercaladas com Contas marrom

Logun Edé – Contas Azul-turquesa intercaladas com Contas douradas.

Oxum – Contas Douradas ou Contas de Âmbar

Iemanjá – Contas Brancas translúcidas ou Contas de Cristal

Iansã – Contas Marrom ou Contas de Coral.

Obá – Cinco Contas Vermelho escuro intercalada com uma Conta Amarela, podem ser tipo cristal.

Ewá – Contas Vermelhas rajadas de amarelo

Nanã – Contas Brancas Rajadas de Azul marinho

Xangô – Contas Vermelhas ou marrom intercaladas com Contas Brancas

Oxalá – Contas Branco Leitoso.


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