quinta-feira, 17 de maio de 2018

Manual do Abian e do Iyawô.



1- Não retrucar o pai-de-santo. Você por acaso retruca seus pais?


2- Não retrucar seus irmãos mais velhos e egbomis; Você por acaso retruca seus avós?


3- Caso tenha algo para falar que não esteja concordando, discretamente peça um minuto da atenção do zelador/zeladora de santo e exponha a situação civilizadamente, sem precisar que a torcida do Flamengo esteja assistindo. Dar um escândalo no meio do barracão não é postura de um filho de santo, e você ainda corre o risco de tomar um coió na frente de todo mundo.



4- Quando tiver visita no barracão (egbomis, ekedes, ogãs, zeladores), seja em dia de festa ou em dia corriqueiro, é bom que os filhos se abaixem para dirigir a palavra ao zelador/zeladora de santo. Detalhe: Só atrapalhar a conversa caso seja EXTREMAMENTE necessário. Deve-se chegar junto à ele, mas não muito, e ficar abaixado esperando que ele pergunte o que deseja. Quando ele perguntar, comece sempre sua frase com “AGÔ”. “Agô, babá etc...



5- Nunca, jamais, em tempo ou hipótese alguma, seja no seu barracão ou no barracão do alheio, deve-se sentar na mesma altura que o zelador/zeladora de santo. Eles já passaram por vários sacrifícios para estar sentado confortavelmente ali. Você ainda está no meio do caminho. Portanto, pra que querer sentar aonde você não alcança?


6- Iyawô e abian não bebem nenhum líquido em copo de vidro dentro de seu barracão ou no barracão do alheio. Deve-se esperar o bom e velho copinho de plástico ou então a conhecida DILONGA, BAN ou CANEQUINHA DE ÁGHATA, como você preferir chamar. Copo de vidro só quem tem direito é egbomi, ekede, ogã e zelador/zeladora.


7- Iyawô e abian não come em prato de vidro ou louça. Apenas em pratinho de plástico ou ághata. Aliás, devemos lembrar que é de boa educação cada filho trazer seu devido pratinho de ághata e sua devida canequinha para seu uso pessoal no barracão. Ah! Garfo? Nem pensar! pode usar a colher, somente. Garfo, só com 7 anos de santo feito, ou então sendo ekede, ogã, zelador/zeladora.


8- Terminou seu ajeum? Pegue seu pratinho e sua canequinha, vá para cozinha e lave. Não cai a mão e não dói. Infelizmente ainda não possuímos uma empregada que possa cuidar da limpeza geral enquanto nós descansamos.


9- Como dissemos no ítem anterior, não temos uma empregada para limpar tudo. Portanto, cada um deve se conscientizar e fazer a sua parte. Ficar protelando, esperando que algum irmão de santo se encha da bagunça e vá arrumar por você não tem cabimento. Cada um fazendo um pouco fica mais fácil e rápido.


10- Resolveu visitar o/a zelador/zeladora? Que maravilha! Eles amarão sua visita, ainda mais se você vier com uma modesta colaboração para o ajeum, pois como é do conhecimento de todos, o/a zelador/zeladora não são ricos e nem tem obrigação de alimentar todo mundo. Madre Teresa de Calcutá já morreu, e definitivamente, ela não vira na cabeça do pai de santo.


11- Ao chegar ao barracão, o procedimento correto é: 
a) Amarrar um pano no peito (mulheres); 
b) Ir direto para a cozinha beber um copo d’água para esfriar o corpo da rua, sem fazer paradas para bater-papo e colocar a fofoca em dia; 
c) Tomar seu banho e ir trocar de roupa; 
d) Bater cabeça no axé, na porta do quarto de santo e para o zelador ou zeladora; e) Tomar a benção à TODOS os seus irmãos, sendo dos mais velhos aos mais novos, de acordo com a ordem iniciática. Agora sim, caso não haja nada em que se possa ajudar (muito embora seja impossível, pois em uma casa de santo sempre tem algo a ser feito), você pode ir colocar seu tricô em dia.


12- Você trabalhou feito uma escrava/escravo, e se cansou? Acabou de fazer todo o serviço? Bem, agora você pode pegar o seu maravilhoso APOTÍ e confortavelmente sentar-se nele. Como dissemos no item 5, cadeiras, sendo com ou sem braço, só ebomis, ekedes, ogãs ou zeladores que podem sentar. Existe uma variável do APOTI, que é a famosa ESTEIRA. Nela você pode se sentar, se espichar e até relaxar seus ossos. Ela é sua! Aproveite!  
 

13- Em sua casa, quando você faz uma comemoração qualquer e é servida uma refeição, você sai atacando o ajeum na frente de seus convidados? Acreditamos que não, né? Portanto, na casa de santo é igual. Antes os mais velhos devem se servir, para só depois os abians e iyawôs se servirem. Isso é mais que uma regra, é etiqueta. E você não vai querer ser um deselegante, não é? Lembre-se: Estão sempre observando você.


14- Você gosta que fiquem pegando suas roupas emprestadas? Pois é, o zelador e zeladora também não gosta. Portanto, que tal ir no Varejão das Fábricas e comprar um belíssimo tecido de lençol a R$ 4,50 e fazer uma baiana de ração básica pro dia-a-dia? Não sai caro e fica uma gracinha. E você finalmente pára de pegar a roupa do alheio emprestada. Não é maravilhoso? Todos na casa contentes e felizes com suas devidas roupas.


15- Quem traz dinheiro para o sustento da casa? Você é que não é. Portanto, trate muito bem os clientes que vão para jogar ou se consultar, pois é deles que vem boa parte do dinheiro. Sorrir sempre e servir um copinho de café ou de água gelada não mata ninguém. Que tal tentar?


16- E vai rolar a festa! O povo do ketu, do Jeje, da Angola e até da Umbanda já mandou convidar. Mas, e o dinheiro para comprar o ajeum e o otí do povo? Com certeza o Carrefour não irá mandar as coisas de graça para o barracão, nem o Mercadão de Madureira tão pouco irá dar os bichos e todo o material restante. Portanto, que tal se todos tirarem do bolso um pouco e ajudarem?


17- Você acha que só por este local ser uma casa de santo, a Light, a CEG e a CEDAE irão fornecer água, luz e gás de graça? É claro que não. Portanto, contribua sempre com a sua módica mensalidade. Economizar um pouco na Skol e no cigarro no final de semana já irá ajudar muito no barracão.


18- O mundo está em guerra, existe muita gente por aí passando fome. Portanto, por que desperdiçar comida? Fazer a quantidade exata só para quem trabalhou dignamente e contribuiu com este maravilhoso ajeum é o coerente, pois você não está no programa da Ana Maria Braga para comer de graça. Por falar em Ana Maria Braga, lembre-se que você não é o Louro José para dar palpites no barracão. Se você tem alguma sugestão, leve-a antes ao zelador/zeladora.


19- Ficou cansado depois da festa? Nada de ir pegando sua bolsa e ir saindo de fininho. Lembre-se da limpeza do barracão.


20- Roda de candomblé, seja em sua casa ou na casa do alheio, não é lugar de ficar de cochicho e risinhos irônicos. Se você quer fuxicar, vá para a rua.


21- Anáguas encardidas, só se for depois da festa do candomblé. Antes, NUNCA, JAMAIS, NEM PENSAR! Devem ser brancas como a neve, salve anáguas de ráfia ou entre-tela.


22- Você, irmãozinho, que vê o mundo cor de rosa, deve deixar esta sua visão progressiva e moderna do lado de fora do barracão. Ali dentro você tem que ver tudo branco. O mesmo vale para as coleguinhas que vêem tudo azulzinho. Casa de orixá é para louvar e cuidar do Orixá, e não para arrumar casório.


23- Vai rolar um churrasquinho de gato na casa do seu coleguinha no meio da semana, no mesmo dia de função do barracão? Então, peça para ele guardar uma garrinha de carne para você e venha cumprir suas obrigações junto a seus irmãos.


24- Se sua irmã de santo tem uma baiana mais humilde do que a sua, nada de ficar xoxando. Lembre-se, o mundo dá voltas e o feitiço pode virar contra o feiticeiro. Amanhã pode ser você com uma baiana de chita e ela com uma belíssima saia de rechilieu.


25- Caso assista fora do seu barracão a algo diferente do que ocorre em sua casa, nada de ficar xoxando e chamando de marmoteiro. Você não é o dono da verdade e nem ninguém o é. O que pode parecer maluquice pra você, pode não ser para o próximo. Além do mais, comentários sempre são feitos depois. Vai que tem alguém conhecido escutando?


26- Ninguém tem mais ou menos santo que ninguém. Isso é regra. Sempre.


27- Respeito é bom e conserva os dentes. Portanto, deve-se pensar duas vezes antes de envolver o zelador/a zeladora e irmãos mais velhos em determinadas brincadeiras de mau-gosto. Apelidos e avacalhações são da porta do barracão pra fora. Além do mais, a próxima vítima pode ser você.


28- Roupa de barracão é saia comprida, camisú e pano da costa. Shortinhos e top’s devem ser usados somente pra ir ao baile funk.


29- Sempre que for servir algum mais velho de santo, deve-se levar numa bandeja ou prato, e abaixar-se para servir. Nunca olhar no rosto da pessoa. Responder somente “sim” ou “não”.


30- Benção foi feita para ser trocada. Sempre que você pede a benção, você está na realidade pedindo a bênção ao Orixá da pessoa, e não à ela própria. Portanto, todos devem trocar a benção, mais velhos com mais novos e vice-versa.
APOTÍ: A casa constantemente precisa de apotís. Nos grandes supermercados vendem higiênicos banquinhos de plástico baratinhos. Coopere com a casa e leve o seu.


Eu peguei essa época!


  • Gente de Iyabá não come bico de pão.
  • Gente de Iyabá não cruza conta.
  • Gente de Iyabá come na roça com colher. 
  • Não se passa faca com as mãos.
  • Não se bebe no gargalo.
  • Pessoas de Oxalá não usam cor dentro da roça.
  • Iaô não tem posto.
  • As mulheres Iaô se abaixavam no xirê entre um Orixá e outro.
  • Buchada só pessoa de Iyabá que vira.
  • Quem vira buchada prepara o chinchin.
  • Oxalá só come bicho fêmea e branco.
  • Homem não entra em cozinha de santo.
  • Você só assiste a obrigação que tem.
  • Peso na roça são com os homens.
  • Organização na roça é de todos.
  • Gente de Oxum não quebra ovo.
  • Gente de Oyá não come abóbora.
  • Iniciado não come caranguejo.
  • Quiabo se corta calado, na enin com vela e água ao lado.
  • Acará para santo se bate com a mesma água que descansou o feijão fradinho.
  • Em águas de Oxalá não entra carne vermelha, nada preto e tudo é feito no maior silêncio que possa.
  • Mulher não desfia mariô.
  • Santo homem não usa pano com abas, orelhas e afins, só rodilha.
  • Iaô passa o primeiro Carnaval e ano novo na roça.
  • Iaô chega na roça, e quem dá banho de ervas é um mais velho de santo. 
  • Troca de bênção é para todos.
  • Quem chega pede a bênção.
  • Salvar todos os quartos depois do banho.
  • Esfriar o corpo para falar com alguém.
  • Salvar só depois do banho de ervas e água limpa.
  • Mais novo não dança com santo mais velho.
  • Mais novo não canta folha na frente de mais velho.
  • Candomblé tem que ter aloá para Orixá.
  • Idade que conta é o dia do nome sempre.
  • Feito não come arroz queimado.
  • Feito não rói osso de alimentos.
  • O único que se veste igual a Iyabás é Oxalufan, suas vestes sempre foi diferente dos outros Oborós.
Era muito legal, apesar de exigência pacas. O que fez mudar tanto minha gente nos dias atuais? Muita internet? Comercialização absurdas do culto?

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